Expurgo Olímpico (Olympic Purge)

Expurgo Olímpico (Olympic Purge)
Galeria Península, Porto Alegre – Agosto 2016

Dani d’Emilia – Expurgo Olimpico 2016 Foto: Denis Rodrigues

[PORTUGUÊS, English below]

Em Expurgo Olímpico, convido o curandeiro Tabaré Reinoso a aplicar ventosas nas minhas costas. O tratamento traz à superfície as lagrimas sangrentas dos anéis olimpicos que marcam a historia recente do Brasil bem como minha propria memoria corporal.

Durante a minha infância, meu pai, italiano, sempre me dizia que se eu quisesse ser ‘alguém na vida’ deveria deixar o Brasil, país ‘atrasado’ onde morava com minha mãe, brasileira. Durante muitas idas e vindas entre Porto Alegre e a pequena cidade nas montanhas das Dolomiti onde ele morava, passei a formar parte de uma equipe de esqui, esporte local. Através de minha dupla cidadania havia a expectativa de que eu acedesse aos jogos olímpicos. Entre meus 11 e 15 anos participei de diversas competições qualificatórias. Aos 15, não aguentei aquele mundo elitista, individualista, conservador, competitivo e capitalista, que aliado a turbulenta relação com mei pai gerou em mim uma solidão e sofrimento imensos. Poucos meses antes das olimpíadas invernais de Nagano ’98 troquei definitivamete o esporte pela arte, o individual pelo coletivo.

A ação foi realizada poucos dias após o término do jogos olímpicos no Brasil. Em plena crise política, económica e social de um Brasil pós-golpe, a ação consistiu em um expurgo pessoal explorando meu proprio corpo como metáfora de um território de violências invisibilizadas. No contexto da residência que estavamos realizando na galeria península, na qual nos propunhamos a ‘imaginar um processo de justiça que envolvesse a cura’ (A.Davis), com esta ação quis a indagar sobre a possibilidade do fechamento deste capítulo  na minha propria pele e historia de vida.

Como descolonizar meu corpo dos treinamentos, imposições e julgamentos externos que me limitaram e ao mesmo tempo me tornaram quem eu sou?
Consigo deixar de lado a ideia de que ‘não sou suficiente’?

[ENGLISH]

In Expurgo Oimpico (Olympic Purge) I invite the healer Tabaré Reinoso to apply suction cups on my back. The treatment brings to the surface the bleeding tears of the olimpic rings that mark the recent history of Brasil as well as another personal history of my childhood.

During my childhood, my Italian father always told me that if I wanted to be ‘someone in my life’ I should leave Brazil, the ‘backward country’ where I lived with my Brazilian mother. During many comings and goings between Porto Alegre and the small town in the Dolomiti mountains where he lived, I became part of a ski team, a local sport. Through my dual citizenship there was an expectation that I would go to the Olympic Games. Between my 11 and 15 years I participated in several qualifying competitions. At 15, I could no longer put up with that elitist, individualist, conservative, competitive and capitalist world, which, combined with the turbulent relationship with my father, generated in me immense solitude and suffering. A few months before the winter Olympics in ’98 I definitively changed sports for arts, individuality for collectivity.

The action was carried out a few days after the end of the Olympic Games in Brazil. In the midst of a political, economic and social crisis in a post-coup country, it consisted of a personal purge exploring my own body as a metaphor for a territory of invisibilized violences. In the context of the residence that we were carrying out in galeria península, in which we engaged with ‘imagining a process of justice that involved healing’ (A.Davis), with this action I wanted to inquire about the possibility of closing this chapter in my own skin and life history.

How to decolonize my body from the training, impositions and judgments that limited me and at the same time made me who I am?
Can I give up the notion that ‘I’m not enough’?